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13 de março de 2009

VELANDO A VIDA

Estive imaginando uma parábola, e não é de hoje. O mundo é como um cadáver em um caixão, e estamos todos no velório. Olhando para o corpo alguns pensam Justificarque ele está ótimo. Outros já acham que ele está como devia estar e outros só se importam com o fato de que ele está definitivamente morto, achando aquilo péssimo.

O velório não dá sinais de que vai terminar e o coveiro tem um ataque epilético, ficando incapacitado de efetuar o enterro. O dia está quente e úmido, e logo o corpo começa a feder porque não foi embalsamado.

O que acontece então? Maquiam o cadáver e usam perfume para esconder seu fedor e sua podridão. Assim agüentam indefinidamente, mas a verdade de que o corpo está se decompondo é real e nada a mudará.

Penso as vezes se as artes são parte integrante da vida (a parte bela dela) ou se são meramente uma maquiagem para as feiúras que ninguém quer admitir que existem. Para muitas pessoas o que eu falei pode ser uma bobagem enorme, mas para mim, dentro de minha realidade atual, é verdadeiro. Gosto de música e especialmente cinema, mas não consigo meramente apreciar uma música ou um filme e pensar “que som gostoso” ou “que filme bacana”. Na verdade penso “queria ser este músico” ou “queria viver dentro do Universo daquele filme” ou ainda “queria ser este personagem”. Normalmente estas coisas despertam um sentimento bom para logo em seguida despertar em mim um sentimento horrível. Como se eu fizesse uma viagem para um mundo mágico e feliz para logo em seguida ser arremessado de volta em um mundo triste, escuro e repleto de monstros e pessoas más. Meu sonho é ser arremessado para outra dimensão, uma aonde eu seja menos massacrado e onde o mundo seja bom (ou pelo menos que me pareça bom).

Estive com minha psicóloga ontem e já na segunda sessão descobrimos algumas coisas a meu respeito. Que eu não aceito o mundo como ele é eu já sabia faz tempo. Mas o efeito maléfico que isso tem em mim é que eu não tinha associado antes. Odeio o mundo, imagino-o como injusto demais e tenho opiniões bem definidas de como ele devia ser. Mas o fato de não ter nenhum poder para mudá-lo me causa uma enorme sensação de incapacidade que mina minhas energias. Não tenho vontade de fazer nada as vezes, só de sumir.

Diante disso, vem a velha história de que para mudar o mundo você tem que mudar a si mesmo. Argumento que isso é uma inverdade. Se eu mudar a mim mesmo, não mudo o mundo, mas sim minha própria forma de percebê-lo e aceitá-lo. O mundo continuará igualzinho, cruel, ordinário e assustador, mas eu posso colocar uns óculos escuros e não ver mais muita coisa que antes via. Se não vejo, não me incomoda, e se não me incomoda, o mundo fica mais legal. É como criar sua própria Matrix, só que sem ter as habilidades do Neo.

Tradução: tenho que aprender a me conformar com o mundo que acho errado e injusto sem me revoltar, o que na minha linguagem significa abaixar a cabeça para a maioria das coisas que julgo serem erradas sem me resignar.

Pelo visto serão longos anos de terapia...

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