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22 de novembro de 2007

O Reino Mágico do Sul

Capítulo 3:
SIMBOLISMOS

Livre olhou para aquele homem encolhido diante dele com repugnância, mas teve pena. O presidente chorava e estava a beira de um colapso nervoso, seja pelo espanto da aparição, seja pela dor de suas unhas descoladas. Livre o tinha conquistado. Livre podia libertá-lo, e assim o fez. Tão subtamente quanto havia aparecido, o revestimento de cristal se desmaterealizou, e o presidente rapidamente saiu correndo pela corredor, gritando desesperadamente.


Livre esperou pacientemente. Sabia o que viria a seguir. Na verdade era preciso que aquilo ocorresse como um ato simbólico, para que todo o povo e todas as gerações seguintes compreendessem aquilo que estava para acontecer. Bem... não tanto para a geração atual, que não tinha como decifrar o simbolismo oculto nos atos que começavam a se desenrolar ali, naquele instante, devido a sua condição de penúria e escravidão intelectual. Mas as gerações futuras, estas sim compreenderiam este simbolismo. E este simbolismo se enraizaria em suas almas de tal forma que eles nunca mais voltariam a ser como eram. Seriam, evidentemente, como Livre era.


Minutos depois cerca de 30 homens armados da segurança entraram atirando certeiramente em Livre. Os projéteis batiam contra sua pele e sua trajetória era desviada, fazendo com que as balas simplesmente ricocheteassem. Os homens olharam para aquilo de maneira assustada. Os locais aonde as balas haviam acertado Livre (todas pontos mortais, diga-se de passagem) estavam trincadas, e as trincas logo se fecharam, como que por mágica. Sua pele era como que feita de cristal.


Livre olhou para eles de forma dócil. Sabia que eram meros bonecos, como ele mesmo era sob um ponto de vista. Com um gesto rápido de suas mãos, transmutou as armas daqueles homens em um lodo negro e de cheiro horrível.


Um deles, provavelmente o mais estúpido de todos, avançou contra Livre. Era perito em artes marciais, mas não conteve o grito de dor quando esmigalhou a maior parte dos ossos de sua mão direita ao tentar aplicar um violento soco contra o rosto de Livre.


“Parem, será que não percebem? Nada disso é necessário”. Os homens arrastaram seu amigo para fora e desapareceram. Em minutos surgiram homens uniformizados com roupas de um esquadrão especial do exército. Suas armas eram de calibre muito maior, e logo começaram a atirar contra Livre em um volume ridículo. Um ser humano teria sido esfacelado pela quantidade de balas. Mas o efeito foi pior do que da vez anterior, e muitas das balas, no seu ricochete, atingiram os atiradores. Alguns morreram na hora.


Aquilo se estendeu por cerca de duas horas. Tropas inteiras cercavam o Palácio do Planalto (que obviamente já estava evacuado desde os primeiros minutos após Livre libertar o presidente), com tanques de guerra e veículos blindados como apoio. Jatos da Força Aérea sobrevoavam o lugar e o espaço aéreo estava isolado. Redes de notícia tentavam captar e noticiar o que podiam. Todo o país estava diante da televisão, que mostrava colunas de fumaça negra subindo de dentro da sede do governo. No exterior, milhões de pessoas viam os eventos.


Após a 7ª tropa falhar na tentativa de eliminar “o demônio” (como os operativos do local chamavam Livre), o presidente, reunido com seus ministros e com os chefes das forças armadas, salivava quando dizia que deviam bombardear o prédio e matar a criatura.


“Tem certeza, Sr. Presidente? É um dos símbolos máximos do País” ponderou um dos líderes militares. “Ponha abaixo e mate aquela criatura terrível, vamos mostrar que temos capacidade de realizar sacrifícios em prol da nação” disse ele, raivoso. Os ministros concordavam. Com pesar, o coronel deu a ordem a seu comandante, que as repassou para a base mais próxima. Em minutos um bombardeiro levantou vôo e despejou toneladas de explosivos contra o Palácio do Planalto, acompanhado por misseis de diversos caças que patrulhavam a área, com a finalidade de causar uma explosão de força incrível e assim assegurar o objetivo de destruir Livre.


O país (e boa parte do mundo) ficou catatônico diante da cena ao vivo. Nunca antes naquele país havia se vido uma coisa tão incrível, poderosa e destrutiva. Um grande cogumelo de fogo, entulhos e terra se levantou a centenas de metros no ar, e uma grande montanha de destruição incandescente habitava onde outrora era a sede do governo.


Minutos se passaram, os políticos comemoravam, os militares pensavam se aquilo era mesmo necessário, o povo sentia um nó na garganta e as agências de notícia vibravam com a cobertura ao vivo mais impactante desde os eventos de 11 de setembro. Só que ninguém esperava pelo que ocorreu logo em seguida.

continua...

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