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19 de outubro de 2007

Terão os robôs uma “alma”?

Hoje é o dia da polícia na Coréia do Sul, país avançado em tecnologia de robótica. Como parte das comemorações, um robô construído no país, HUGO, foi condecorado como policial honorário em Daejeon. Mero marketing das corporações de tecnologia, pode pensar você. Ou seria um prodígio indicando uma tendência prevista não só na ficção científica?

David Levy, britânico pesquisador em inteligência artificial na Universidade de Maastrich, na Holanda, terminou recentemente seu Ph.D sobre as relações entre humanos e robôs. Com o título de “Intimate Relationships with Artificial Partners” (Relações íntimas com parceiros artificiais) ele alega que os robôs de um futuro muito próximo serão tão parecidos com humanos (fisicamente e também nas reações e respostas a estímulos diversos) que logo pessoas estarão apaixonadas por eles, a ponto de manterem relações sexuais e se casarem.

“Amor e sexo com robôs são inevitáveis” disse ele em entrevista à publicação especializada LifeScience (http://www.livescience.com/technology/071012-robot-marriage.html). “Uma das coisas que predispõe as pessoas a se apaixonarem é a similaridade de personalidade e nível de conhecimento, e tudo isso é programável” completou ele.

No ano passado o Financial Times noticiou que o governo britânico emitiu um relatório aonde afirmava que robôs podem e devem, no futuro, gozar do que hoje se consideram direitos humanos. O relatório de 270 páginas foi feito por um cientista do governo, David King, e elaborava projeções para o mundo dentro de 50 anos.

No Japão, na região de Akihabara, hoje e amanhã estarão ocorrendo os Jogos Robóticos, aonde mais de 200 robôs participarão de competições e exibições, com o intuito de aperfeiçoar a tecnologia atual. Os japoneses depositam grandes esperanças nos robôs, pois em 2050 a expectativa é que 40% da população seja formada por idosos, dos quais os robôs poderiam cuidar ou substituir como mão de obra, uma vez que o país não tem taxas de natalidade altas o bastante para a reposição e eles não pretendem abrir suas fronteiras para a entrada de imigrantes.

A Ficção Científica sempre foi expoente de vanguarda. Mostrava viagens interplanetárias e visitas à lua em épocas aonde isso era considerado impossível, heresia, sonhos tolos, pecado ou mera bobagem. Diferente de tudo o mais, a ficção científica nunca pode se prender às possibilidades atuais, e por poder extrapolar todos os conceito atuais de realidade (sejam éticos, espirituais, filosóficos, científicos e tecnológicos) tende a obter, dentre muitas coisas meramente fantasiosas, a capacidade de prever muitas coisas com décadas e até mesmo séculos de antecedência.

Dentre estes produtos da ficção científica, tem um que gosto muito e se chama “Chobits”. É uma história japonesa aonde os computadores são uma amalgama disso com robôs humanóides (simulacros quase perfeitos de humanos), chamados de “persocons”. Em formas variadas para atender a todos os gostos, muitos são acompanhantes permanentes de pessoas. O personagem principal, um pobretão que sempre sonhava com uma persocon bonita para si, acha e fica com uma misteriosa persocon, por quem ele acaba se apaixonando perdidamente, com um amor mais profundo do que se costuma ver entre dois seres humanos, por exemplo.

No mês passado ocorreu em Palo Alto, CA (EUA) um encontro chamado “The Singularity Summit: AI and the Future of Humanity” (O Ponto de Singularidade: Inteligência Artificial e o Futuro da humanidade), que reuniu diversos cientistas. Conceberam a idéia de que em um futuro próximo existam computadores autoprogramáveis e implantes cerebrais que permitiriam humanos pensar tão rapidamente quanto os microprocessadores atuais.

Eles alertaram que agora é a hora de desenvolver guias éticos para garantir que tais avanços ajudem ao contrario de fazer mal. "O nosso mundo não será mais o mesmo", disse Rodney Brooks, professor de robótica no MIT. Quanto aos computadores, "quem somos nós e quem são eles será uma questão completamente diferente", falou.

Eliezer Yudkowsky, co-fundador do Instituto de Singularidade de Inteligência Artificial, em Palo Alto, e organizador do evento, pesquisa o desenvolvimento da chamada “inteligência artificial amigável”. Seu grande medo é que inventores brilhantes criem uma inteligência artificial que se desenvolva sozinha, mas que não tenha moral e se torne má (como nos filmes da série Exterminador do Futuro ou em Matrix). Ray Kurzweil, empresário do ramo, escreveu em seu livro “A Singularidade Está Próxima” que a máquina se tornará mais inteligente que o homem em 2029.

A inteligência artificial (matéria que eu já estudei “de leve”) caminha para um aprimoramento tão grande que promete acabar com os conceitos atuais de “consciência”, com indivíduos baseados em software dotados com capacidade intelectual, de aprendizagem, de comunicação, de relacionamento e de tomada de decisão independente (por si mesmo) semelhantes à humana. Já a mecatrônica avança rapidamente na tecnologia de simulação do corpo humano, tendo já alguns exemplares de robôs que em uma primeira passada de olhos se parecem muito com humanos reais.

O questionamento que me faço é se uma criatura que terá a imagem de um ser humano, que terá as mesmas capacidades motoras e intelectuais de um humano (se não mais), que será alvo de afeto e desejo de humanos e que poderá esboçar reações no mínimo semelhantes à emoção humana não teria uma “alma”?

A alma pode ser considerado energia vital por alguns, ou a essência dentro do receptáculo que é o nosso corpo físico, nossa mente e intelecto ou nosso verdadeiro eu por outros. Um robô teria isso tudo na forma de bits, qBits (se forem baseados em computação quântica) ou impulsos elétricos, que em ultima instância é o que nós também somos, com a diferença que nossos circuitos são bioquímicos, e o dos robôs, eletrônicos.

Outra obra de ficção científica que gosto muito é “Battlestar Galactica”. Na versão atual (houve uma anterior, da década de 1970) humanos que habitam um sistema planetário de 12 planetas são caçados por robôs que eles mesmos haviam construído e com quem haviam guerreado a mais de 50 anos. Durante 5 décadas desaparecidos os robôs voltaram com força total, e muito mais avançados, com modelos baseados em uma tecnologia que misturava elementos eletrônicos e biológicos eles podiam até mesmo procriar com humanos, tinham emoções, uma sociedade complexa e (pasmem) até mesmo uma religião aonde havia apenas um deus. Os humanos da história eram politeístas.

Se robôs poderão não só simular como fazer de fato praticamente tudo que os humanos fazem, se eles poderão ter uma “alma”, o que impedirá que desenvolvam a fé, uma religião e experiências religiosas? Após destruído, um robô iria para o céu?

Sei que estes questionamentos podem parecer ridículos, mas muitas vezes, quando estou “de bobeira”, me pego pensando nestas coisas. E quando falo pensando, não é apenas imaginando. É pensando seriamente nestas questões, que algo me diz, serão muito relevantes em menos de 50 anos. Como disse, a ficção científica não se prende a conceitos e valores atuais, e desta forma, muitas vezes acerta.

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